PIB surpreende e reforça perspectiva de investimento

A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, embora seja de uma análise retroativa, era aguardada com grande expectativa pelo mercado, que buscava avaliar a intensidade do aquecimento da demanda. O resultado veio acima do esperado, registrando um crescimento de 1,4% em relação ao primeiro trimestre, ajustado sazonalmente (o projetado era uma alta de 0,9%). Essa expansão deve levar a revisões para cima nas previsões de crescimento do PIB para 2024, com alguns analistas já estimando números superiores a 2,5%.

O consumo das famílias, impulsionado por um mercado de trabalho forte, avançou 1,3% em comparação ao trimestre anterior, e tudo leva a crer que esse índice continue em trajetória ascendente nos próximos períodos. Os aumentos da renda média e da massa salarial sustentam o consumo, compensando, em parte, o impacto das elevadas taxas de juros sobre as vendas. Além do consumo das famílias, dois outros dados evidenciam o aquecimento da demanda. 

O setor registrou crescimentos de 1,4% nas exportações e 7,6% nas importações. Os gastos do governo, por sua vez, após várias altas, apontou um aumento na margem de 1,3%. Esses fatores, somados à mudança na tarifação de energia para a bandeira vermelha, reforçam a expectativa de um novo ciclo de alta nos juros básicos da economia brasileira, que já enfrenta pressões inflacionárias, em especial nos custos e nos salários. Assim, o aperto monetário deve ser gradual, acompanhando de perto a dinâmica da política fiscal para determinar o seu alcance.

Manter o atual ritmo de crescimento pode se tornar mais desafiador daqui para a frente, já que a economia parece necessitar de uma pausa estratégica até que o investimento — que já dá sinais de recuperação — amadureça. A formação bruta de capital fixo apontou alta de 2,1%, sucedendo o crescimento vigoroso de 11% ocorrido no primeiro trimestre. A construção civil e a importação de máquinas e equipamentos foram os principais motores desse avanço. 

Pelo lado da oferta, a expansão foi puxada pelos setores de Serviços (1%) e pela Indústria (1,8%), enquanto a Agropecuária recuou (-2,3%). Em relação ao segundo trimestre de 2023, o PIB cresceu 3,3%, com alta na Indústria (3,9%) e nos Serviços (3,5%), ao passo que a Agropecuária sofreu queda expressiva (-2,9%).

Essa alta significativa dos Serviços e da Indústria surpreendeu, ainda que em contextos distintos: enquanto o primeiro atingiu patamar histórico, o segundo ainda está distante do seu recorde, registrado há dez anos. A queda no Agro já era esperada em decorrência da seca que afeta o País e dos resquícios da tragédia climática no Rio Grande do Sul. Sem esses eventos adversos, o PIB poderia ter alcançado crescimento próximo a 2%.

Esses resultados indicam a necessidade de o Banco Central considerar um novo ciclo de alta dos juros. Se a tarifação de energia elétrica se mantiver na bandeira vermelha até o fim do ano, é provável que a inflação ultrapasse a meta superior, o que pode desancorar as expectativas. O dado do PIB reforça essa necessidade, e um novo ciclo de alta dos juros deve começar já em setembro, com a política fiscal determinando a extensão desse ajuste.

Fonte: Contábeis

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